O Mito do Alfabetismo
ENILDA PICHLER
O alfabetismo segundo imaginação popular é o que o homem civilizado e de uma sociedade civilizada possui de mais importante. A mesma depende não apenas do alfabeto, mas sim da instrução segundo o nível de cada criança.
Por ser um fator político e ter variedade de país para país, as culturas alfabetizadas não são todas socialmente alfabetizadas. As reais condições do alfabetização dependem não da escrita, mas da história da leitura.
Segundo Graff o alfabetismo em grande parte é um fator propiciador, tornando possível o desenvolvimento de estruturas políticas complexas. Para alguns usos da linguagem o alfabetismo é um obstáculos decisivo.
Durante a maior parte dos dois últimos séculos o “Mito do alfabetismo” servia como explicação para o lugar do alfabetismo na sociedade , na política, cultura ou na economia. É hora agora de colocar novas e desafiadoras questões que possam levar a novas visões sobre o alfabetismo e seus papéis. Uma perspectiva histórica pode ser extremamente liberadoras.
Tudo isso é uma conseqüência natural da tirania do “mito do alfabetismo”, o qual juntamente com outros mitos sociais e culturais, tendo base na realidade social para assegurar sua dispersão e aceitação. Essa construção equivocada dos significados e contribuições do alfabetismo, geram contradições que não somente é um problema empírico e de comprovação, mas também uma falha de conceptualização e de epistemologia; ignorando o papel vital do contexto sócio-histórico. Os obstáculos a uma compreensão adequada para a questão do alfabetismo, impedem que conheçamos as dimensões das mudanças qualitativas nas habilidades populares para empregar de forma útil as capacidades de leitura e escrita hoje.
Graff alenca três tarefas para o estudo e interpretação do conceito.Primeiramente, é necessária uma definição consistente que sirva comparativamente ao longo do tempo e através do espaço.Níveis básicos ou primários de leitura e escrita constituem os únicos sinais ou indicações razoáveis que satisfazem esse critério essencial.
Incluem-se em medidas como evidência de documentos escritos, respostas a enquetes e questionários, resultados de testes e medidas semelhantes; as fontes, a população considerada, os países,a época. Essas indicações básicas e diretas acarreta precisão, utilidade e comparabilidade aplicadas de forma consistente.
Em segundo lugar, o autor (Graff,1990.p.35) deixa explícito, seu entendimento acerca do complexo conceito literacy afirmando que alfabetismo é uma tecnologia ou conjunto de técnicas para a comunicação e a decodificação e reprodução de materiais escritos ou impressos.
O alfabetismo deve ser visto como base, um fundamento, uma habilidade adquirida de forma distinta daqueles orais e não verbais e não como um fim ou terminação.
O ultimo critério, mas não menos importante,o mais complexo, trata da:
(....) reconstrução dos contextos da leitura e escrita, como, quando, onde, por que e para quem o alfabetismo foi transmitido; os significados que lhe foram atribuídos; os usos que dele foram feitos; as demandas colocadas sobre as habilidades alfabéticas; os graus nos quais essas demanda foram satisfeitas; a extensão da restrição social na distribuição e difusão do alfabetismo e as diferenças reais e simólicas que emana da condição social do alfabetismo entre a população.
(Graff,1990.p.40)
O contexto no qual o alfabetismo é ensinado ou adquirido é um área importante. O ambiente nos quais os alunos adquirem seu alfabetismo carrega um ímpeto extraordinário sobre as implicações cognitivas de sua posse de habilidades e dos usos que dele podem ser feitos.
O alfabetismo nos primeiros tempos era restrito e uma habilidade relativamente sem prestígio, levava pouco da associação com riqueza, poder status e conhecimento que adquiriu mais tarde.
O triunfo alfabetismo e da escrita, apesar remodelado com a passagem do tempo, tem permanecido resiliente em sua hegemonia cultural e política sobre as funções sociais e individuais do alfabetismo e da escolarização.
O que precisa ser compreendido é que o oral e o alfabético, como o escrito e o impresso, não precisam ser colocados em oposição como simples opções, pois a história humana e os desenvolvimentos humanos não se realizam dessa forma.
As palavras escritas e impressas foram distribuídas para muitos semi-alfabetizados e analfabetos através de processo orais.
Reconhecer os legados do alfabetismo permite considerar as similaridades e diferenças nas taxas de alfabetismo, a forma de escolarização, usos simbólicos e práticos do alfabetismo ,o reconhecimento da valor positivo do alfabetismo, dentro dos diferentes contextos sociais ou econômicos.
Na tradução do texto de Graff ( 1990,p 64) Tomas Tadeu da Silva escreveu uma nota para justificar a preferência pela palavra alfabetismo, que teria uma definição nos dicionários muito semelhante ao termo (...) literacy qualidade ou estado de ser alfabetizado. O tradutor atenta para o fato de que o vocábulo analfabetismo que se refere juntamente é amplamente conhecido na língua portuguesa, o que não acontece com o termo alfabetismo ao estado contrário,evidenciado uma relação entre o significado da palavra e a realidade social.
Se o mundo inteiro fosse alfabetizado, não aconteceria muita coisa, pois o mundo é, em grande medida, estruturado de uma forma que é capaz de absorver o impacto. Mas se o mundo incidisse de pessoas alfabetizadas, autônomas, críticas, capazes de traduzir as idéias em ação, então o mundo mudaria.
O alfabetismo não é o único problema. Ele também não é a única solução.
BIOGRAFIA
Graff,Harvey, O Mito do Alfabetismo . Teoria e Educação. Porto Alegre. Pamnonica,1990, pg30-64.